Estou de saída do Brasil, e agora?

Felipe Carvalho
5 min readJul 5, 2018

Em primeiro lugar, parabéns! É uma decisão bastante difícil de se tomar, há muitos pontos a se considerar, espero que você tenha pesado bastante os prós e os contras e desejo com toda força que você esteja com a cabeça tranquila em relação a sua decisão!

Dizem que se conselho fosse bom a gente vendia, né? Enfim, se lhe aprouver, gostaria de dar alguns conselhos nesse momento de enormes mudanças na sua vida, baseado em coisas que vivi e pensei ao longo desses último anos, vivendo aqui em Berlim.

Em primeiro lugar, mantenha sempre a cabeça tranquila. Você perderá aniversários de amigos e familiares, chegará a inevitável conclusão que Skype não faz milagre na hora de matar a saudade, o dinheiro de vez em quando vai faltar, muita coisa ruim vai acontecer. Agora que eu já te joguei no fundo do poço pensando nisso, deixa eu te contar outra coisa: se você não saísse do Brasil, um monte de outras coisas ruins também aconteceriam, só seriam diferentes. Tenha sempre a consciência de que você não tomou uma decisão de forma atropelada. Lembre-se sempre (sempre mesmo!) das coisas que você pesou e de por que você chegou a conclusão que sair do Brasil era a melhor opção. Na hora em que o desespero bater (e eventualmente ele vai bater), lembrar dessas coisas vai te ajudar a se acalmar.

E quanto este momento chegar, bem, há várias formas de lidar com isso. Tem gente que opta por beber pra esquecer. Tem gente que vai se enfiar na academia e puxar ferro pra desviar o pensamento. Tem quem vai pro cinema distrair a cabeça. Pessoalmente, a abordagem que funciona melhor comigo é distribuir amor. Nos momentos ruins eu me dedico de cabeça a melhorar o dia dos outros. Não precisa ser nada de outro mundo: muitas vezes um sorriso e um elogio viram o dia de uma pessoa de ponta cabeça. E ver que você é o causador dessa felicidade em outra pessoa é um remédio danado de bom pra curar tristeza, isso eu posso afirmar por experiência própria!

Falando em experiências, você pode ter experiências tremendas, mas lembre-se de manter-se aberto a elas! Saia pra explorar seu bairro, sua cidade, não se prenda àquilo que você conhece, às pessoas que fazem parte do seu círculo mais próximo, procure sempre conhecer pessoas e lugares novos, faça valer essa oportunidade única na vida que você está tendo. Oportunidade de conhecer outros pontos de vista, interagir com outras culturas, enriquecer sua visão de mundo, experimentar sabores novos. Haverá sempre pessoas mal humoradas querendo te jogar pra baixo, mas não se deixe abater por essas pessoas. Se alguém for grosseiro com você, não discuta. Dê as costas e vá embora. A negatividade projetada por tal pessoa nada mais é do que a frustração por ver alguém com mais opções a sua frente.

E por “manter-se aberto”, entenda-se também “não restrinja seu círculo de amizades a brasileiros“. Não é dizer que brasileiro não presta (caso contrário, bem, nem eu, nem você, nem minha família prestamos), mas é muito fácil nos mantermos dentro da nossa zona de conforto: falar um idioma que já conhecemos, andar sempre com as mesmas pessoas, nos ater aos costumes que trazemos da infância. Como eu disse no parágrafo anterior, faça essa experiência valer ao máximo! Aproveite para aprender novos idiomas, a forma de pensar daquele povo, a culinária local. Convide pessoas de nacionalidades diferentes para ir a sua casa, seja proativo para fazer amizades!

No entanto, não se esqueça de que ninguém tem a obrigação de ser seu amigo ou tornar sua vida mais fácil. Você tomou a decisão de ir pra casa dos outros “sem ser convidado”. Ninguém é obrigado a mudar sua vida para te acolher. Imagine-se do outro lado: imagine que um amigo trouxe um gringo que só fala inglês pra uma festa. É óbvio que você vai se esforçar pra ser educado e tentar falar um pouco com o cara em inglês, mas em um dado momento, estando rodeado dos seus amigos, você vai querer estar com eles, não vai querer ficar falando em inglês com todos os seus amigos durante o resto da festa só por causa de uma pessoa. E isso é natural! Em qualquer lugar do mundo é assim! Então, não se sinta mal se você demorar a se integrar aos locais; conforme seu domínio do idioma local aumentar, isso acontecerá naturalmente. Mas pra que isso aconteça, você se precisa se esforçar pra aprendê-lo. Amizades nascem a partir da comunicação, e quanto melhor você falar o idioma daqueles que te rodeiam, maiores as chances de fazer novas amizades.

E lembre-se: se no meio do caminho você perceber que esqueceu de considerar alguma coisa muito importante e não está dando certo morar no exterior, sua família e seus amigos sempre o receberão de volta de braços abertos. A partir do momento que você vai morar em outro lugar, sua vida é responsabilidade total sua, o que quer dizer que você só deve satisfação a si próprio. Você não precisa provar a ninguém que é capaz de realizar nada, e voltar não é sinal de fraqueza nem de falta de inteligência. Voltar simplesmente significa que suas prioridades mudaram mais uma vez (como tudo sempre muda na vida de todo mundo) e voltar pra casa ganhou mais importância do que as outras coisas. Não há motivo pra se sentir mal ou incapaz por isso, simplesmente o mundo girou e suas prioridades mudaram. Se aceite do jeito que você é e seja feliz!

E por falar em lidar com mudanças, isso vale também no campo profissional. Lembre-se que sua relação com a empresa que te contratou é profissional: na hora em que eles acharem que você não está mais rendendo lucro a eles, você será despedido. Por isso, não se prenda a compromissos fictícios da sua cabeça, coisas do tipo “os caras esperaram por mim então eu deveria trabalhar nesse lugar por pelo menos X unidades de tempo”. Não se force a ficar num lugar que você não goste. Eu sinceramente desejo que seu próximo emprego seja o melhor emprego da sua vida, mas, se não for, seja sincero consigo e parta pro próximo! Lembre-se que você passa 1/3 da maior parte da semana trabalhando, e ninguém nasceu pra sofrer. Ao invés de se arrastar para passar 8 excruciantes horas num lugar que você não suporta, parte logo pro próximo emprego e vai ser feliz!

Pra finalizar, como dizia Martin Luther King Jr, mantenha os olhos no prêmio. Será uma jornada longa, cheia de tropeços e sorrisos, mas tenho certeza de quando você olhar pra trás, verá que tudo valeu a pena e faria tudo de novo.

Boa sorte na sua caminhada!

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

Felipe Carvalho
Felipe Carvalho

No responses yet

Write a response