Estruturando uma mudança de país
Opa! Se você chegou até aqui, tenho certeza que você já sabe que pode pular, porque a rede de segurança vai estar lá e já pensou bastante e sabe por que você quer sair do Brasil, certo? Legal!
Então vou falar um pouco sobre como foi o meu processo, tanto do ponto de vista mental quanto do prático. Não sei se esses passos são válidos para qualquer profissão e/ou tipo de personalidade. Eu sei que minha profissão é analista de sistemas e que sou uma pessoa que não gosta de dar passos em falso (ou que nunca dá ponto sem nó, como diria um amigo meu). Se esses passos se aplicarem completamente a você, excelente! Senão, customize a vontade considerando aquilo com o qual você concorda ou discorda.
p.s.: é um post grande, ok? :)
O tempo das coisas
Bom, como eu disse, eu não sou muito de me jogar de cabeça em mudanças grandes. Sou mais do tipo “devagar e sempre”, mas sempre em movimento. Eu já falei que desde muito novo tinha o sonho de sair do país? Já, né? Então, beleza.
Conforme eu fui crescendo, felizmente eu descobri que tinha facilidade pra aprender idiomas. Pra minha imensa felicidade (e dos meus pais também), nunca precisei estudar pra fazer prova de inglês, por exemplo. De alguma forma, as coisas do idioma simplesmente faziam sentido pra mim. E essa vontade de viajar e conhecer outros países e outras culturas me levou a querer aprender também espanhol e italiano. A paixão pelo Barça e as fotos dos monumentos e paisagens italianas e da Catalunha tiveram uma grande influência nisso também.
Isso tudo me levou a decisão natural de, quando entrei no mercado de trabalho, dar preferência a lugares onde houvesse a possibilidade de ser enviado para o exterior, fosse de forma temporária ou definitiva. Em todas as empresas onde trabalhei que eram multinacionais, sempre falei com meus superiores que tinha esse sonho. Não me importava com o destino, eu queria era viver no exterior. E obviamente trabalhava duro em todos os projetos, em busca do reconhecimento que levaria a realização do sonho. Consegui isso algumas vezes. Fui para a Suíça e para os EUA a trabalho, duas semanas de cada vez em cada ocasião. Mas mesmo tendo alcançado o objetivo de sair do país de forma temporária, isso não me satisfez. Eu queria mais. E continuei perturbando meus superiores (não o tempo todo, óbvio, mas sempre que a oportunidade se apresentava) sobre isso.
Em um certo ponto da vida, eu vi que isso não se tornaria realidade, por diversos motivos. E resolvi, então, tomar as rédeas do sonho que, afinal de contas, era meu. Por que diabos a empresa tinha qualquer responsabilidade de realizar o meu sonho? Se o sonho é meu, quem tem que tratar de realizá-lo sou eu! Atingir essa percepção foi libertador.
Então fiz um planejamento de longo prazo pra alcançar esse objetivo. Nesse ponto talvez você esteja curioso pra ver uma foto do meu planejamento no papel, ou um PDF com uma cópia dele, e vou te dizer que nunca tive nada disso. Sempre esteve tudo na minha cabeça. Por um motivo bem simples: era um planejamento tão simples que eu nunca precisei desenhar ou anotar ou salvar em lugar nenhum. Era fácil lembrar dele todo. Consistia basicamente de quatro coisas: burocracia, capacitação, oportunidade e auto-respeito.
Pra resolver a burocracia, no meu caso, era relativamente simples. Eu sempre tive vontade de morar na Europa e uma grande parte da minha família é portuguesa. Meu pai, sempre mais astuto do que deixa transparecer, tirou sua cidadania portuguesa e perguntou se eu não queria fazer o processo também, pra facilitar a vida no futuro, caso viesse a ser necessário. Então entrei em contato com o consulado português no Rio por e-mail e eles me informaram o que eu precisava providenciar de documentação. Agendei um atendimento pra dali a uns 6 meses e fui a luta. De posse dos documentos de cidadão português do meu pai, uma tia me ajudou (e muito) a organizar o resto dos documentos necessários. No dia da entrevista / atendimento no consulado, eles praticamente não fazem nada. Conferem os documentos, tiram sua foto, coletam sua assinatura, colocam tudo num envelope e te mandam botar no correio. 10 meses depois recebi os documentos em casa pelo correio. Simples assim. Burocracia resolvida, eu poderia trabalhar tranquilamente em qualquer país da União Européia, sem precisar me preocupar em ficar preso a empresa que tinha patrocinado meu visto.
Sobre a capacitação, bom, na área de TI (não faço ideia de como seja em outras áreas), muitas vezes ter uma sopa de letrinhas (certificações, cursos, diplomas, etc) no teu currículo não garante a tua capacidade profissional, mas faz brilhar os olhos de recrutadores. Além disso, felizmente a área de TI não requer validação de diploma, estudos complementares nem nada do tipo, basta saber programar. Eu já tinha algumas certificações no CV, mas queria algo que me diferenciasse mais em qualquer processo seletivo. Então, apesar de não ser muito fã do mundo acadêmico, e de ter certeza que papéis na parede ou siglas na assinatura do e-mail não atestam capacidade de ninguém, adotei uma postura pragmática e disciplinada e me forcei a entrar em um mestrado. Não vou mentir dizendo que adorei o mestrado, que escolhi uma linha de pesquisa pra me aprofundar, nem nada romântico do tipo. Eu detestei o mestrado a cada minuto, foram dois anos e meio que não voltam mais. Escolhi uma linha de pesquisa cujos assuntos eu já tinha razoável domínio, e decidi fazer a dissertação sobre assuntos com os quais eu já trabalhava no dia a dia. Pensei inúmeras vezes em desistir. Mas continuei, mesmo a contragosto, por causa do objetivo final, que era o diploma, e a (esperada) facilidade que este me daria em processos seletivos no futuro. Não tenho orgulho dessa escolha, mas também não tenho a menor vergonha. Trilhei de forma objetiva o caminho que eu tinha me proposto e atingi o objetivo que me abriria as portas que eu queria que fossem abertas.
Ao longo desse tempo, também procurei me manter razoavelmente informado sobre as oportunidades de trabalho na minha área em países de interesse. Nunca fui rato de jornal, de ler tudo de cabo a rabo todo dia antes do café da manhã. Mas eu precisava olhar as notícias internacionais de vez em quando. Acompanhei com interesse a crise na Europa, conversei com amigos que tinham mais facilidade do que eu pra perceber como estava o mercado em dados países, acompanhei as notícias nos países, criei alertas em sites de empregos pra ter uma noção leve da flutuação de ofertas de emprego na minha área e especialidade, nada mirabolante. Por exemplo, eu sempre tive interesse pela Irlanda e pela Itália. Mas, ao pesquisar ofertas de emprego em ambos os países, vi que teria que riscar a Itália da minha lista porque a oferta de empregos de TI lá era (e ainda é) pequena e com salários ruins. Quando a Espanha afundou na crise, então, pra mim foi desesperador, haja vista minha paixão por Barcelona. Depois desses dois anos e meio, cheguei a conclusão que, na minha área, na Europa, eu teria que priorizar Reino Unido, Alemanha e Irlanda como destinos, tanto pela estabilidade econômica quanto pela oferta de empregos e salários na minha área. Ao longo desse processo, descobri, por exemplo, que devido a crise o governo irlandês montou um programa de “reconstrução” da economia com um foco muito forte em tecnologia e transferência de conhecimento. Com isso, muitas empresas de diversos setores como, por exemplo, AirBnB e Ericsson realocaram uma grande parte de seus setores de tecnologia pra lá. O site http://startupireland.ie/ dá uma noção muito boa de ofertas de empregos no país.
Por fim, sempre levei em consideração o respeito às minhas características. Eu não gosto de agir de forma afobada. Perceba que esse processo todo levou anos. Ok, não necessariamente precisamos levar em conta todo o tempo desde a minha adolescência, mas perceba que gastei pelo menos três anos executando esse planejamento e amadurecendo essa ideia, pesando prós e contras e deixando minha consciência em paz com as consequências das minhas ações pra que, quando posta em prática, eu não ficasse cheio de preocupações na cabeça nem estressado por ter que perseguir um ritmo acelerado. Além disso, eu adoro futebol, e eu não iria por nada nesse mundo sair do Brasil antes de assistir a Copa do Mundo. Sem contar que no mesmo ano meu pai faria 60 anos. E, por fim, se eu pudesse sair do Brasil com emprego garantido, seria bem melhor, né? Então, mesmo considerando todos esses fatores temporais, não deixei de me candidatar a empregos. E em todas as entrevistas que fiz ao longo desse período, sempre deixei claro logo no primeiro contato quais eram as minhas condições: só poderia começar depois de Julho de 2014 (ninguém precisava saber que era por causa da Copa) e teria que voltar, nem que fosse por uns 4 dias) em novembro, pro aniversário do meu pai. Depois de um tempo, também incluí o Natal na lista de condições e cheguei a conclusão que era mais fácil simplesmente colocar 2015 como data de início.
E assim foi. Trilhando essas 4 vertentes, em setembro de 2014 fiz entrevista para a minha primeira empresa na Europa, e marquei minha data de início pra fevereiro de 2015. Dessa forma eu teria tempo suficiente pra organizar minha mudança, não precisaria vir pra cá pra ficar procurando emprego, escolhi uma empresa que tinha o perfil que eu queria, passei o aniversário do meu pai e o Natal no Brasil com toda a minha família e cheguei a Alemanha no final do inverno, pra reduzir o risco de problemas na adaptação. Olhando pra trás, eu fico realmente satisfeito com o planejamento que tracei e como passei por ele.
Se você também pensa em fazer um planejamento desse tipo, eu sugiro dar uma atenção aos seguintes pontos:
Visto de trabalho
Não há muita uniformidade nesse quesito. Cada país tem suas próprias regras com relação a isso e, mesmo dentro da União Européia, até onde eu sei, há bastante divergência.
Nos EUA, por exemplo, até onde eu sei, há leis de proteção ao emprego, pelo menos na área de TI. Então, uma empresa que queira patrocinar o visto de trabalho pra um estrangeiro tem que provar que ofertou aquela mesma vaga dentro do país, não conseguiu ninguém dentro do país que preenchesse os requisitos e que contratar um estrangeiro era mesmo “a única solução”, por assim dizer.
No que se refere a Alemanha, até onde eu sei, existem 3 tipos de visto relativos a trabalho para Alemanha: visto para procurar emprego, visto de trabalho e Blue Card. Se não me engano, os dois primeiros precisam ser feitos no Brasil e pro terceiro existe um visto pra solicitar o Blue Card que você pode tirar ainda no Brasil, antes de sair.
Abaixo tem alguns links do consulado alemão com as informações principais de cada um deles.
Visto pra procurar emprego:
http://www.brasil.diplo.de/contentblob/4118566/Daten/4505311/Merkblatt_Arbeitsplatzsuche_Visumpt.pdf
Visto de trabalho:
http://www.brasil.diplo.de/contentblob/4194718/Daten/5225436/Merkblatt_Arbeitsvisumpt.pdf
Visto pra entrada pra solicitar Blue Card:
http://www.brasil.diplo.de/contentblob/4118582/Daten/5023423/Merkblatt_Blaue_Karte_EUpt.pdf
Sobre o Blue Card:
http://www.brasil.diplo.de/contentblob/4118648/Daten/5228640/Broschre_Blaue_Karteengl.pdf
Site com mais informações relativas a empregos na Alemanha:
Contatos
Jamais abra mão da sua rede de contatos. E eu não tô falando de ficar puxando o saco dos outros pra te favorecer em alguma coisa, não. To falando de amigos, família e colegas mesmo. Sempre peça ajuda a quem você acha que te complementa numa habilidade ou conhecimento que você não tem. Se você não tem a capacidade de analisar muito bem as consequências da crise econômica na sua área de trabalho, por exemplo, não sinta vergonha disso. Muita gente sequer sabe que estamos passando por uma crise. Peça ajuda, converse com aquele amigo que entende mais desse assunto que você. Peça a opinião de mais uma pessoa. Peça indicação de artigos, blogs, livros pra entender melhor sobre o assunto. Eu mesmo só consegui o emprego onde estou hoje porque um amigo que sabia que eu queria sair do país me falou sobre a vaga num site de empregos que eu nem conhecia. Minha cidadania portuguesa só saiu graças a inestimável ajuda de uma tia.
Fale com as pessoas sobre os seus objetivos. Mas não gaste o tempo e a energia deles falando sobre suas vontades, fale sobre seus objetivos concretos, sobre aquilo que você está disposto a levar a cabo caso a oportunidade se apresente; caso contrário, se eles se dispuserem a te ajudar e você tiver mudado de vontades, pode ter certeza que nunca mais eles vão gastar tempo com você. De forma geral, as pessoas que gostam de você vão querer te ajudar a realizar seu objetivo, e sempre que ouvirem falar em algo que casa com o que você quer, vão te indicar pra aquilo. Quando você deixa o universo saber sobre os seus objetivos, ele conspira a seu favor. Eu sei porque comigo foi assim :)
Visite o seu destino
Como eu falei anteriormente, se você tiver a oportunidade, eu sugiro fortemente uma visita de campo ao destino que você almeja. A pior coisa do mundo seria você mover mundos e fundos pra se mudar pra um lugar, só pra chegar e descobrir que não há jeito de você se adaptar àquele lugar.
Eu sugiro visitar lugares no verão. Por que isso? Bom, no verão normalmente as pessoas estão mais felizes, mais descontraídas, as cores do lugar estão mais vivas, tudo parece melhor (pelo menos, pra mim). Alguns lugares podem ser bastante deprimentes no inverno. Dependendo do país, você pode ver o sol nascer às 10 da manhã e se por às 4 da tarde sem que haja uma pausa sequer na neve caindo. Então, é bastante fácil não gostar de um lugar no inverno. Por outro lado, se mesmo no verão você não gosta de um lugar, eu particularmente acho que você deveria desistir de morar naquele lugar. Mas isso funciona pra mim desse jeito porque eu gosto de sol e calor. Se você gosta mais de frio, sugiro fazer ao contrário
Da mesma forma, se você costuma usufruir de tudo que uma cidade grande brasileira oferece (cinema, teatro, parques, transporte público razoavelmente eficiente, praia, opções ao ar livre), eu sugiro pensar duas vezes antes de aceitar uma oferta de emprego pra morar no interior de um país europeu, por exemplo. Você vai sentir um choque violento de início. O meu post anterior fala mais sobre isso.
Invista na sua capacitação
Mudar de emprego não é a mesma coisa que mudar de emprego e de país. As empresas tem culturas diferentes, expectativas diferentes, tudo diferente. Você ter um curriculum desejado no mercado do Rio de Janeiro, por exemplo, não te coloca necessariamente entre os candidatos mais disputados no destino que você deseja. Então, analise o mercado do lugar pra onde você quer ir. Avalie se o seu perfil atual encaixa com o perfil das ofertas. Invista em preencher as lacunas que existem entre o que você almeja e o que você tem a oferecer.
Mais do que isso. Persiga o seu objetivo de forma pragmática: ou seja, se você não tem uma sopa de letrinhas no seu CV, mas essas letrinhas são desejadas onde você quer ir, você tem três escolhas: adquirir essas letrinhas, desistir do seu destino ou se arriscar pra ver o que acontece. A escolha é sua, os benefícios e prejuízos também.
Procure alternativas
Se você quer muito ir pra um lugar, mas você espera dificuldades pra conseguir um emprego, avalie as alternativas. Você está preparado pra desistir da sua carreira e da sua profissão pra morar no lugar que você deseja? Em caso positivo, que outros empregos você aceitaria, mesmo que temporariamente?
Procure saber que outro tipo de emprego você conseguiria no seu destino. O site http://www.toplanguagejobs.co.uk/, por exemplo, oferece empregos em diversas áreas para pessoas com conhecimentos em mais de um idioma.
Use o Google a seu favor, pesquise o mercado de lá. Entre em grupos de Facebook e LinkedIn, converse com pessoas que conhecem ou moram naquela área. São esses contatos que vão te dar a maior ajuda a alcançar o teu objetivo.
Tenho um amigo, por exemplo, que conseguiu um emprego em Melbourne, na Austrália, conversando com uma pessoa que conheceu num grupo no LinkedIn.
Idioma local
Depois de alguns meses morando numa cidade onde é razoavelmente fácil de se comunicar em inglês na maioria dos lugares, eu sugiro fortemente que, antes de se mudar, você adquira um domínio mínimo do idioma do lugar pra onde você está se mudando (ou, pelo menos, maior que o meu).
No meu caso, quando fiz as entrevistas, todos que me entrevistaram disseram que não precisava saber alemão porque todo mundo se comunicava em inglês o tempo todo. Mas na prática, no dia a dia, você vai ter que ir a lugares onde nem todo mundo domina o inglês. Conheço algumas pessoas que trabalham na minha empresa que falam inglês, mas o acham ruim e tem vergonha de usá-lo, mesmo estando em um ambiente onde a imensa maioria tem ciência que o inglês não é seu idioma nativo e são altamente tolerantes a eventuais falhas na linguagem.
No dia a dia, você vai precisar ir ao banco, se consultar em um médico, responder a uma pessoa te pedindo informações na rua, talvez ir a polícia reportar um documento perdido ou roubado, fazer compras no supermercado mais barato, vai querer experimentar um restaurante típico, ir a uma festa na casa de um colega, conhecer uma cidade pequena, tomar cerveja num pé sujo, enfim, você quer viver uma vida normal, não quer ficar restrito a um conjunto imutável de lugares que aceitem o seu idioma. E aí um domínio básico do idioma vai te proporcionar uma vida melhor. Também não é dizer que pra morar em Berlim você precise ser o cara que ensinou tudo ao Goethe! Mas se você conseguir travar diálogos típicos de restaurante, supermercado e endereço, por exemplo, já é um excelente começo!
Obviamente isso varia conforme o país, a cidade, etc. Num final de semana em Copenhague, e me comuniquei o tempo todo em inglês sem nenhum problema. Fiquei hospedado num apartamento alugado via airbnb, num bairro que estava longe de ser turístico, comi em lugares também longe de serem turísticos e me comuniquei em inglês sem problema nenhum o tempo todo. Mas se você tem a intenção de morar em um determinado país sem prazo pra ir embora, saber e/ou aprender o idioma local é sempre uma boa escolha.
Pense sempre no seu parceiro
Depois de conversar com alguns amigos, posso afirmar que tendo uma pessoa junto contigo nessa mudança, a sua adaptação será muito mais tranquila. Eu mesmo passo o dia inteiro falando inglês e eventualmente algumas poucas palavras em alemão. Quando eu chego em casa, o que eu mais quero é falar o meu idioma. Se eu tivesse que chegar em casa e ligar a TV e ouvir mais inglês ou alemão, eu enlouqueceria em duas semanas.
Então, se você planeja levar alguém contigo, tenha certeza de que essa pessoa:
- está realmente a fim de te acompanhar, e não está simplesmente embarcando numa mudança profunda só pra te agradar;
- está disposta a encarar os mesmos perrengues que você, possivelmente tendo que abrir mão da sua profissão e carreira pra trabalhar em algo que nunca pensou em fazer;
E, acima de tudo, se você tem a sorte de ter uma pessoa com tamanho desprendimento ao teu lado, valorize-a todo santo dia, e demonstre o valor que você dá a ela. Se você passa o dia trabalhando enquanto ela fica em casa estudando ou arrumando a casa ou o que for, ao chegar em casa, dê a essa pessoa o valor e o reconhecimento que ela merece, por ter aberto mão da sua carreira / profissão e estar ali contigo, te ajudando da melhor forma possível.
Planeje sua chegada
Essa é uma parte importante dos primeiros meses de adaptação, que sempre são críticos. Nem sempre é simples arrumar moradia antes de chegar, ou logo ao chegar. E nem sempre é fácil se adaptar ao clima que você vai encontrar.
Em Berlim, por exemplo, gasta-se um bocado de tempo pra conseguir arrumar um apartamento. Em Munique é a mesma coisa. Não basta você ser o primeiro a chegar pra ver o apartamento ou ter o dinheiro pra pagá-lo. As leis de moradia na Alemanha protegem bastante o inquilino, e muita gente se aproveita disso pra ficar morando em um lugar sem pagar aluguel por 3 meses e depois se mudar pro próximo e fazer a mesma coisa. Logo, nenhum proprietário em sã consciência, vai aceitar qualquer um no seu apartamento. Aluguel por aqui às vezes passa também por empatia entre proprietário e inquilino, e pra isso acontecer, só olhando no olho.
Como já sabíamos que seria difícil arrumar um apartamento em definitivo, o que fizemos foi alugar um apartamento pequeno, via AirBnB, por 2 meses. O preço não saiu muito mais caro do que a média que a gente tinha pesquisado em sites de aluguéis de imóvel por aqui, e nos deu a tranquilidade necessária pra lidar com o processo de registro na cidade e procura de um apartamento mais definitivo. Além disso, nunca esqueci uma palestra do Vinicius Teles, que me abriu os olhos: pra que lidar com contas e fornecedores de energia, internet, gás, etc, num país novo cuja língua você não domina? Alugue um apartamento mobiliado e com todas essas “preocupações” incluídas, e seja feliz!
E a parte (pra mim, mais importante) da chegada: o clima. Se planeje para o ponto da estação do ano em que você vai chegar. Se você vai se mudar, por exemplo, pra Alemanha em setembro, você ainda pega um clima razoavelmente ameno, mas às portas do inverno. Então esqueça bermuda, saia e outras roupas curtas. Dê maior prioridade a roupas mais pesadas, porque em breve você vai precisar delas e os preços de casacos e roupas pesadas não estarão em promoção nessa época. Porém, como diz muito bem a Camilian, você não precisa de um milhão de roupas, você precisa das roupas certas.
O meu planejamento de mudança levou isso em consideração. Escolhemos nos mudar pra cá em fevereiro pra pegar o final do inverno e sofrer menos com a adaptação. Então os dias começavam razoavelmente cedo (clareava por volta das 08:00h), o sol se punha num horário OK (tipo 17:00h) e já não tinha tanta neve. Foi uma escolha bastante boa, dali pra frente o tempo só melhorou e hoje, especificamente, tá um dia espetacular por aqui. Tô de bermuda e tudo!
Acho que é isso. Espero que te ajude a se planejar. Dúvidas? Sugestões? Comentários? Manda ver, tamo aí pro que precisar. Até o próximo post, sobre os primeiros meses na Alemanha!