Quanto custa morar em Berlim

Felipe Carvalho
8 min readJul 5, 2018

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Há um tempo atrás um amigo me perguntou qual seria a faixa salarial razoável pra um casal morar em Berlim, bairros legais pra morar, além do custo mensal de aluguel, água, internet, etc. E ele me sugeriu fazer um post sobre isso. Então eu pensei: por que não? Então, mãos a obra.

De forma análoga a esse amigo, a primeira pergunta que eu fiz a todo mundo quando cheguei aqui, lá em fevereiro de 2015, foi: onde é bom de morar? Até então, eu nunca tinha atentado para o fato de que, quando um carioca faz essa pergunta, normalmente ela carrega consigo uma outra pergunta implícita: onde não é perigoso de se morar? E eu demorei um pouco a tomar consciência de que, inconscientemente, eu esperava mais uma resposta para pergunta implícita do que pra pergunta explícita. Demorou um pouco até entender que eu não precisava mais me preocupar tanto com segurança :)

Voltando a pergunta original, antes de falar sobre onde é bom de morar, preciso falar sobre o sistema de transporte em Berlim.

Berlim tem uma rede de transportes muito boa, com diversas opções pra se ir de um lugar a outro, composta de metrô (U-Bahn), trem (S-Bahn), bonde (tram — mais na área central da cidade) e ônibus, além de um sistema de ciclovias que abrange toda a parte central da cidade.

Berlim também tem duas linhas de S-Bahn que são circulares e correm ao redor da cidade. Essas linhas formam o chamado “ring”. Isso significa dizer que se você morar em um bairro que fique dentro do ring, é bem mais fácil se deslocar de um ponto a outro. De forma geral, dentro do ring você dificilmente dependerá de uma linha específica de S-Bahn, U-Bahn ou ônibus pra ir e voltar de casa. Na imensa maioria das vezes, haverá pelo menos uma estação de U-Bahn e/ou S-Bahn a no máximo 10 minutos de caminhada.

O mapa a seguir mostra alguns dos bairros e estações de S-Bahn contidos no ring:

Em resumo, qualquer bairro contido no Ring é bom de se morar. Todos têm áreas boas e áreas não tão boas. De forma geral, são muito mais seguros do que qualquer bairro do Rio. Pra escolher um pra morar, vai depender dos seus gostos, das coisas que você quer ter perto, o quão distante você quer morar do trabalho, etc.

Eu, por exemplo, em 2015 morava em Schöneberg, um bairro que não é muito "trendy", mas do qual gosto muito: tem bastante opções de transporte, bastante comércio, vários restaurantes de diversas partes do mundo, ruas bonitas e tranquilas. De fato, uma das minhas sorveterias preferidas em Berlim fica a poucas quadras de onde morava (o que pode ser um problema pra manter o peso). Se, por outro lado, você prefere morar mais perto do agito, talvez você prefira morar em Kreuzberg, Neukölln ou Friedrichshain. Se você não confia muito no seu alemão, provavelmente Mitte e Prenzlauer Berg serão boas opções, por serem áreas onde há maior concentração de turistas e expats. Além disso, os bairros por aqui são enormes. Mesmo que você não seja muito chegado a acordar de madrugada com o barulho dos bêbados voltando da night, ainda assim é possível morar em Friedrichshain, por exemplo. O AirBnB tem um guia descrevendo alguns bairros daqui, pode ser um bom ponto de partida pra escolher um pra morar: https://www.airbnb.com/locations/berlin

É importante salientar que morar fora do Ring não é necessariamente ruim! Há bairros como Lankwitz, Baumschulenweg, Zehlendorf, entre outros, onde você pode morar em espaços maiores, com mais proximidade da natureza, mais tranquilidade e pagando mais barato. Em compensação, pra voltar pra casa depois das 21h, você terá menos opções de transporte e terá que se planejar melhor. Por exemplo, há bairros mais afastados para os quais, depois das 22h, o S-Bahn só passa a cada 40 minutos. E muitas vezes dá algum problema e o trem falha, te deixando a pé. Ou seja, morar dentro do ring requer menos planejamento pra se deslocar pela cidade, especialmente a noite nos finais de semana.

Com relação ao custo de vida, o custo mais alto é de aluguel. E, como em qualquer outra cidade, vai variar bastante em função da localização e tamanho.

Por exemplo, tenho um amigo que mora em Friedrichshain num apartamento de 45m2 com um quarto. Ele gasta €600 / mês, contando aí aluguel + “condomínio” + aquecimento + água + eletricidade. Uma outra amiga mora no encontro dos bairros e Mitte e Prenzlauer Berg, e paga €1200 por mês num apartamento de 100 m2, com 2 quartos e um quartinho pra guardar coisas. Esse valor não inclui eletricidade nem internet.

Pra dar uma ideia melhor, o TotalDeutsch fez um mapa com o custo médio de aluguel de acordo com a rede de transporte. Você pode ver esse mapa nesse link. Os valores citados no mapa se referem ao custo de aluguel sem aquecimento de um apartamento de aproximadamente 70 m2 no ano de 2016. Os valores talvez estejam desatualizados hoje mas dão uma noção das diferentes faixas de aluguel.

No caso, eu e minha ex-esposa sempre tivemos o plano de não passar mais de 2 anos em Berlim. Por isso, ao invés de alugar um apartamento comum, alugamos um apartamento mobiliado e com todas as despesas (água, luz, aquecimento, condomínio) inclusas. Isso evitou o custo inicial de montar um apartamento (o apartamento que escolhemos, além da mobília, tinha pratos, talheres, copos, TV, tudo já dentro) e o trabalho de se desfazer de tudo na hora de ir embora. Além disso, evita o trabalho de ter de se comunicar com concessionárias e provedores de serviço em alemão claudicante. Além disso, apartamentos pra alugar são extremamente concorridos por aqui. Quanto mais barato o aluguel, mais gente visitando o apartamento no mesmo dia e horário. Apartamentos mobiliados muitas vezes tem um preço mais alto, o que diminui a concorrência e facilita encontrar algo mais rapidamente. Sempre sugiro fortemente considerar essa opção a quem procura apartamento por aqui.

Além disso, como é difícil conseguir alugar um apartamento rapidamente, eu sugiro também alugar um apartamento no AirBnB pros primeiros 2 ou 3 meses. O custo pode ser um pouco maior, mas pelo menos você tem tranquilidade pra conhecer os bairros com calma, escolher aqueles que se encaixam mais com o teu gosto e procurar um apartamento mais definitivo. Mas fique atento a regra de registro na Alemanha (Anmeldung). Segundo a lei, você precisa se registrar na cidade (/ fazer o seu Anmeldung) em até 15 dias após sua entrada no país. Por isso, se você for alugar algum lugar pra ficar durante os primeiros meses, é recomendável acertar isso com o seu proprietário antes de fechar o aluguel, pois você vai precisar de um contrato formal assinado por ele (o contrato do AirBnB, por exemplo, não é válido) pra apresentar no Burgeramt ao se registrar na cidade.

Pra procurar um lugar pra morar em Berlim, a maioria das pessoas usa os mesmos sites: https://www.airbnb.com, https://www.wg-gesucht.de e http://www.immobilienscout24.de/. O https://www.wg-gesucht.de originalmente era usado por pessoas procurando gente pra dividir apartamentos (a sigla WG, em alemão, significa algo tipo “república”), mas hoje em dia tem também apartamentos normais (consegui o meu primeiro por lá). O http://www.immobilienscout24.de/ é uma agência imobiliária. Nem sempre alugar por meio de agência é a opção mais barata, pois muitas vezes os agentes pedem 3 meses de aluguel como depósito. Tome muito cuidado na hora de alugar apartamento com anúncios, e-mails ou diálogos do tipo “o proprietário está viajando no momento, então, será que você poderia depositar € XX na conta Y? Você receberá as chaves no dia do início do aluguel ao chegar no apartamento”. Esse tipo de golpe é bem comum, principalmente em sites como Craig’s List. De forma geral, fuja desse site. Já vi relatos de pessoas que caíram nessa e no dia de pegar as chaves, havia 3 ou 4 outras famílias lá, esperando todos a mesma coisa.

Pra quem gosta de malhar, as academias low-cost são bastante populares por aqui. Eu malhava na FitX e pagava €15 / mês, num contrato de duração mínima de 2 anos. Também são muito populares a Mc Fit e a Fitness First, com preços na faixa de €15–20. Os custos dessas academias são baixos porque basicamente tudo que elas oferecem são os aparelhos. Não tem professor circulando pra orientar aluno nem nada do tipo. Na McFit e na Fitness First, por exemplo, você precisa pagar €0,50 pra tomar banho ou usar a sauna. Na Mc Fit não tem professor nem pra montar tua série: eles disponibilizam uma série de panfletos com várias séries prontas, e você escolhe o que quer malhar quando.

O custo de alimentação também não é muito alto. De forma geral se almoça na rua durante a semana gastando algo na faixa de €5–10. Supermercado também não é caro; €50 em compras no mercado, especialmente nos mais baratos como Lidl e Aldi, é suficiente pra te fazer pensar em alugar um carro só pra carregar as compras pra casa. Pra ser sincero, é bem difícil você precisar gastar mais do que €50–70 por casal / semana em supermercado.

Os custos de internet são normalmente bem baixos. No meu primeiro plano, da operadora 1&1, eu pagava €30 / mês num pacote que incluía internet, 1 número fixo (que nunca usei) e 2 números de celular, onde eu e minha ex-esposa falávamos de graça entre nós.

O custo de transporte vai depender de como você escolher se deslocar pela cidade. O jeito berliner de se deslocar é a bicicleta. Comprar uma bicicleta aqui é razoavelmente caro (os preços normalmente começam em €100), mas comparado ao custo de um bilhete mensal (€81), faz valer a pena. Há diversos tipos de bilhete, e ficam mais baratos conforme o tipo de adesão. Se você comprar um bilhete anual, por exemplo, você paga algo em torno de €60 / mês. Se você optar por uma bicicleta, invista também em um bom cadeado. Roubo de bicicleta, infelizmente, é bem comum por aqui, e tem gente que recomenda investir 30–50% do valor da bicicleta em um cadeado.

Sobre salário, o custo de vida aqui é bem baixo em comparação com outros países europeus de economia forte, e também em comparação com outras cidades alemãs. Eu diria que um salário bruto de €4000 / mês dá pra um casal viver sem aperto. Por “sem aperto” entenda-se também que o casal vai precisar de um certo planejamento nos seus gastos: levar comida de casa pra almoçar no trabalho de vez em quando, limitar um pouco a quantidade de vezes em que sai pra jantar, etc. Mas também não é nada drástico a ponto de se proibir de fazer algo diferente do circuito casa-trabalho-casa. Esse valor permite viajar de vez em quando pra destinos baratinhos (Copenhague é belíssima!), ir ao cinema e sair pra conhecer comida coreana, vietnamita, síria… Sem contar que vinhos e frios são bem baratos, então sempre dá pra se divertir bastante em casa, ainda mais se chamar uns amigos pra curtir contigo.

Acho que é isso! Se interessou? Quer saber mais? Comenta aí embaixo!

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Felipe Carvalho
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